Aula de modelo vivo.
É, eu tive. E nem me pergunte dos resultados. Meus desenhos dão até medo de tão feios! Tadinha da modelo, vai ficar ofendida se disserem que eu fiz aquilo olhando pra ela. Mas enfim, não vim discutir meus desenhos.
Vim, na verdade, falar da modelo.
Me passaram muitas coisas pela cabeça enquanto eu a assistia posar.
Antes de mais nada, a aula funciona assim:
Sala com mesas de desenho formando um círculo. 20 a 30 alunos estavam presentes. Palquinho de uns 30cm de altura no meio do círculo. Modelo chega com um robe de seda. Tira o robe e fica 20 minutos em cada pose pra que a gente desenhe. Por 2 horas. De vários ângulos. Em posições simples, porque foi a nossa primeira aula de modelo vivo. Sala com musiquinha, mas sem conversas.
Pensamentos:
-> Quanto será que uma pessoa ganha pra vir aqui e tirar a roupa assim?
-> Como será que ela se vê no espelho?
-> Umas 150 pessoas no mínimo, só hoje, já viram ela sem roupa.
-> Que cara mais falso-blasè. Ela até tenta, mas a cara dela não convence de que ela está a vontade ali.
-> Uia! Ela tem uma pinta na bunda! Eu também tenho pintas em lugares divertidos. Mas não é pra todo mundo ver vai...
-> E se eu virasse modelo vivo?
-> Ela fechou os olhos. Ela tá ficando pálida. Será que ela tá bem?!
-> Ai meu deus, segura a mulher que ela tá balançando! Vai cair dali!
Foi extremamente profissional ela. Até um dos motivos de ter sido uma situação tão normal desde o começo da aula. Eu até estranhei a naturalidade dela tirando a roupa. Mas não sei. Ela estava sim incomodada. E eu não conseguia me concentrar nos desenhos ou no corpo dela simplesmente porque os olhos dela não deixavam.
O corpo tinha formas redondas. Não era nem gorda nem magra. Com uma altura mediana, pernas e pés roliços, cintura apagada, tinha a pele bem branquinha. Cabelos desarrumados em um coque. Orelhas que destoavam do nariz delicado. Mas os olhos... ah os olhos...
Castanhos. Ora preocupados. Ora entediados.
Olhavam para lugar nenhum. Fixavam-se em lugar nenhum. Se perdiam em lugar nenhum. E ousavam se fechar discretamente por alguns segundos. Semi-cerravam-se. E eu me divertia porque nunca tinha tido essa oportunidade: olhar os olhos de uma pessoa que não pode fugir. Não pode, por se incomodar, se retirar do recinto, te dar as costas ou algo parecido.
Não que eu a tenha encarado durante as duas horas. Mas por alguns momentos. Ela não dirigia seu olhar a ninguém.
Pessoas ao serem encaradas se sentem nuas. Ela se sentia como?
Foi estranho sim.
Do ponto de vista profissional não. Mas do humano. Eu acho que foi.
sábado, maio 14, 2005
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Um comentário:
Eii ..inteiressante ...
Ri muito dos seus pensamentos ...
Pra variar .. heheh ...
Beijokas
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